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Páginas em Branco

by Geyse L. Ribeiro

 

O vento cantava em seu ouvido e as folhas das arvores balançavam, delicadamente, em um calmo toque. Ela sorriu um pouco, sentindo o ar frio – porém, não menos agradável – tocar sua pele, arrepiando de leve os pelos de seu corpo.

 

 

Ela suspirou, tristemente. 

 

 

Ele fazia tanta falta; e parecia que a cada segundo sem senti-lo perto lhe era uma eternidade. Precisava de seus abraços, de seus beijos. Precisava, urgentemente, senti-lo dentro de si, a amando. Amando-a da forma selvagem e delicada que apenas ele sabia fazê-lo. No entanto, a distância, a profissão, a coragem dele, não lhes permitiam. 

 

 

Ele estava longe; estava lutando por seu país, lutando pelas pessoas e suas vidas; e sabia que, dês do momento em que lhe dissera “sim” frente ao padre, no altar, concordara em dividir a gentileza, o amor e a coragem dele com todo o mundo. E mesmo que isso a causasse dor, sabia que sempre quando ele voltava, outra vez, para seus braços, tudo valia apena. 

 

 

Ela ficou algum tempo frente a janela. Viu quando as nuvens começavam a escurecer, e depois, quando os primeiros pingos de chuva tocavam o vidro claro. Por fim, em um suspiro, ela se sentou no sofá, sentindo algumas lágrimas escorrerem por sua face. Saudades, malditas saudades que estavam a matando!

 

 

Alguns minutos – ou horas, ela não soube ao certo – se passaram, e em meio ao silêncio da pequena casa, um som lá fora se fez estridente. Ela se sobressaltou, sentindo o coração já batendo mais acelerado. Correu até a janela e sorriu abertamente assim que o viu sair da camionete com a mochila nas costas.

 

 

Ela, com pressa, correu até a porta e abriu rapidamente, logo sentindo vento lhe acariciar a face. Quando ela saíra de dentro da casa, os pingos já caiam sobre ela, como agulhas afiadas. A chuva fria contrastava perfeitamente com seu corpo quente, que estava rígido devido ao frio. Mas assim que o impacto do copo dele no dela acontecera, o frio parecia não existir. O calor dele lhe parecia um cobertor, aquecendo-a de forma terna, apesar de ainda sentir os pingos caindo por ambos os corpos. 

 

 

Ficaram daquela forma durante longos minutos, até que ele, delicado, levou os dedos até o queixo dela, levantando a mirada, de forma que o contato de olhares se tornasse ainda mais intenso. Segundos depois, os lábios dele estavam sobre os dela; primeiro delicados selinhos, como se quisesse sentir o gosto doce dos lábios dela. Depois, o beijo tornou-se intenso e rápido; Ele sorria entre o contato, e em um impulso, pegou-a no colo, subindo os poucos degraus que havia até a porta e adentrando a casa. Sentiu o ar familiar e sorriu ainda mais, quando a viu recostar a cabeça em seu peito. Ele beijou-lhe a testa e ela sorriu, sentindo-se plena. Estava outra vez nos braços dele!  

 

Ele a colocou no sofá, de forma terna, aconchegando–a ali, para que, logo em seguida, seu corpo tampasse o dela, e novamente, os beijos se tornassem rápidos e desejosos. 

 

 

Eles não trocaram nenhuma palavra – e para ser sincera, as mesmas, não lhes fizeram falta -, apenas se amaram. Amaram-se como se o amanhã não existisse. E, para eles, cada momento que tinham um ao lado do outro, era sagrado. Não perderiam um segundo, por que, para eles, mais do que para ninguém, o amanhã era uma folha em branco! 

 

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